A extinção de idiomas indígenas tem ligação com a falta de território, aponta historiador

De acordo com dados da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), 21 % das línguas indígenas do Brasil correm risco de extinção. O país ocupa a terceira colocação no ranking dos índices de idiomas nativos que poderão ser extintos. Segundo dados do Museu do Índio, existem entre 150 e 180 idiomas falados no Brasil, estatísticas inferiores, se comparadas as 1.200 línguas existentes na época da chegada dos colonizadores. Ao longo dos séculos, 85% dos idiomas foram extintos.

Para o historiador Pablo Camargo, existem inúmeros territórios indígenas não-identificados e sem delimitações, o que compromete a preservação cultural dos grupos. “As comunidades que tiverem seus territórios regularizados terão como transmitir para as gerações futuras a tradição e a cultura pertinente ao grupo, e no caso dos grupos que têm um idioma específico, transmitir o idioma. Se o grupo não tem este território, a insegurança e a desarticulação social e política se tornam latentes desestruturando o grupo e sua sustentabilidade cultural”, explica.

Camargo também destaca outra possibilidade: a falta de interesse de jovens indígenas em dar sequência ao idioma. “Em alguns casos a grande maioria das comunidades indígenas tem uma relação e um intercâmbio muito grande e antigo com a sociedade envolvente. As culturas são dinâmicas e o jovem indígena muitas vezes procura outras perspectivas culturais para o seu futuro e do grupo. Mas, o principal motivo da extinção das línguas indígenas não é este, e sim, o etnocídio sistemático desde o período do contato [chegada dos europeus às Américas]”, finaliza.

Idiomas indígenas oficializados no Equador

Em março de 2009, foi aprovada no Equador uma iniciativa que oficializa dois idiomas indígenas no país. Além do castelhano, a língua oficial, os idiomas kichwa e shuar foram incorporados como idiomas oficiais de caráter intercultural. Os outros idiomas nativos são considerados oficiais para as populações indígenas em seus territórios.

Segundo as informações divulgadas pela Coordenadoria Andina de Organizações Indígenas (Caoi), os idiomas oficializados, bem como os demais, são patrimônios culturais do país e serão de uso oficial, determinado por Lei – neste caso, o Estado se compromete a respeitar e incentivar a preservação das línguas.

Por Letícia Veloso

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